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Integração de outros profissionais que trabalham com comportamento animal é muito bem-vinda

Postado em junho 14, 2024 as 1:49 pm por Daniela Nucci

 

Artigo-Professora e Mentora da Pós-Graduação em Etologia Clínica Veterinária, da Faculdade Qualittas, Simone Moreira Bergamini.

Num País de proporções continentais como o Brasil, com uma área tão nova como a etologia clínica e com a possibilidade de uma abordagem multidisciplinar do paciente, a qualificação e integração de outros profissionais que trabalham com comportamento animal é muito bem-vinda.

Posicionamento contra o uso de aversivos no treinamento de animais

Várias técnicas e ferramentas de treinamento são utilizadas há décadas para educar e treinar animais, visando melhor convivência com humanos, prática esportiva e realização de tarefas específicas, inclusive por animais de assistência. Contudo, métodos de treinamento baseados em coerção, força, punição e ferramentas aversivas têm mostrado efeitos deletérios na qualidade de vida e bem-estar dos animais. Em contraste, métodos baseados em reforço positivo, que recompensam os comportamentos desejados, têm se mostrado mais eficientes e benéficos.

A Associação Brasileira de Medicina Veterinária Comportamental (ABMeVeC) se posiciona contra o uso de métodos coercivos e ferramentas aversivas para o treinamento de animais. Métodos coercivos, como reforço negativo e punição positiva, podem prejudicar a saúde física e mental do animal, gerando reações como esquiva, apatia, medo, ansiedade, agressividade e aumento de bioindicadores de estresse. Essas técnicas comprometem o bem-estar dos animais e sua relação com a sociedade.

Estudos científicos demonstram que a utilização de técnicas coercivas pode levar a consequências prejudiciais, incluindo comportamentos de fuga ou esquiva, desamparo aprendido e aumento de agressividade. Reforço negativo pode atrasar a aprendizagem e causar estresse agudo, enquanto punição positiva pode gerar comportamentos de estresse, medo e agressividade.

Por outro lado, métodos baseados em reforço positivo incentivam escolhas saudáveis e promovem um senso de controle sobre o ambiente, fortalecendo a resiliência e o equilíbrio emocional dos animais. O reconhecimento da consciência animal, como evidenciado pela Declaração de Cambridge em 2012 e o Modelo dos Cinco Domínios do Bem-Estar Animal, reforça a importância de métodos que promovam experiências positivas para os animais.

A mídia televisiva e algumas linhas de trabalho ainda incentivam o uso de métodos coercivos, muitas vezes baseados na teoria da “dominância”, que justifica a utilização de técnicas como o alpha roll e ferramentas de controle físico. No entanto, a teoria da dominância é baseada em modelos desatualizados e observações de lobos em cativeiro, não refletindo a organização social natural desses animais.

Embora técnicas coercivas possam trazer resultados observáveis em curto prazo, não há evidências de que sejam mais eficazes que métodos de reforço positivo. Pelo contrário, treinamentos baseados em recompensas têm mostrado melhores resultados em obediência e redução de problemas comportamentais.

É essencial que o processo de modificação comportamental considere o estado emocional do animal e as causas subjacentes do comportamento, em vez de apenas suprimir o comportamento indesejado. Punição negativa, que envolve a retirada de um estímulo agradável, deve ser usada com cautela para evitar frustração.

Legislações municipais e estaduais, bem como a resolução n.º 1.236/2018 do CFMV, destacam que submeter animais a atividades que ameacem sua condição psicológica pode ser considerado maus-tratos. Profissionais que atuam com bem-estar animal devem estar atentos a essas diretrizes e priorizar métodos que promovam a saúde e o bem-estar dos animais, baseados em conhecimento técnico-científico atualizado.

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