Artigos Técnicos

O agronegócio nos tempos de coronavírus

Como um tsunami, a crise do coronavírus bateu em diversos setores que atuam para o desenvolvimento mundial. Entre eles, o agronegócio.

Postado em abril 16, 2020 as 4:48 pm por Minha Cliente

     A chegada do Coronavírus trouxe um momento de revisõesnas perspectivas de crescimento do PIB mundial, além dos resultados desastrosos que estão sendo divulgados pela mídia. Numa mudança de ambiente  jamais visto, uma série de alterações surgiram em setores como o agronegócio.

    Em um cenário como este, para muitos empresários e produtores paralisar as atividades não é um objetivo real. Ainda mais em um mundo organizado em cadeias integradas de valor, com muitos produtos perecíveis de logísticas sofisticadas.
   Os impactos são inúmeros, a começar pelo setor de serviços, que tomba de imediato, seguido da indústria e, por fim, a agricultura, uma vez que a comida é a última coisa a ser cortada, por quem perde o trabalho e a renda.
O agronegócio não sofreu impactos pela COVID-19
Reprodução: Shutterstock

 

  O agronegócio e as perspectivas para 2020

A Organização Mundial do Comércio (OMC) mostra um cenário catastrófico.  Em primeiro lugar, as trocas globais em 2020 cairiam numa faixa entre 5% a 30%, espalhando destruição de valor em produtores, compradores, transportadores e outros, segundo a OMC.

Além dos danos econômicos causados pela pandemia, consequentemente há a questão da retomada de confiança pelas pessoas e empresas, um passo ainda mais lento, diante das constantes ameaças que o vírus oferece.

O agronegócio e a chegada do Coronavírus
Reprodução:Getty Images

Ainda neste cenário, a economia dos EUA encolhe 1,5%, a da China cresce 3% (era 6%) e na Europa cai 2,2%, conforme informações do Bradesco.

O agronegócio e os canais de venda nos supermercados

O agronegócio em geral será um dos setores menos atingidos, mas isso não vale para todas as cadeias produtivas de as áreas que envolvem este setor, aspecto que veremos a seguir.

O agronegócio não prejudicou a distribuição de alimentos nos supermercados
Reprodução:Shutterstock

Uma das atividades que saiu à frente tendo benefícios na crise foi a dos supermercados, devido à mudança nos canais de vendas de alimentos, indo dos restaurantes fast-food e outros tipos do chamado foodservice, para o canal supermercadista.

São números que impressionam. Na Inglaterra, o consumo em supermercados aumentou em 361 milhões de libras por semana. Varejistas ingleses estão contratando milhares de pessoas, devido ao aumento da demanda, quase 45 mil vagas oferecidas.

Nos EUA, a empresa de pesquisa Chicory levantou um crescimento de 123% nas vendas on- line de supermercados, comparando com o mesmo período do ano anterior. Para os restaurantes, um cenário desolador.

Confirmando o que havia dito nas duas análises anteriores, a China, que está em estágio mais avançado no combate ao coronavírus, vai recompondo suas importações com uma política de elevação de estoques, consumidos durante os meses de parada.

 

Porém, como parte dessa crise, a China exportadora vai sofrer com a redução do crescimento mundial e menores importações. O país seguirá comprando carnes e outros produtos do agronegócio brasileiro neste semestre. Os frigoríficos que pararam (estima-se cerca de 5 a 10% da capacidade) deverão afiar as facas e cortar novamente. As cadeias de frangos, suínos e peixes que se beneficiam com mais exportações a preços melhores, principalmente as duas primeiras, mas terão como ponto negativo enfrentar insumos, principalmente rações, mais caras em reais.

Suprimentação de alimentos está protegida, afirma OMC

Outro ponto de preocupação mundial, trazido em recente reunião da OMC neste final de março e documento conjunto lançado por ela, pela FAO e pela OMS, é o de garantir que cadeias globais de suprimento de alimentos não sofram interrupções devido ao coronavírus. Países como a Rússia e Cazaquistão já fizeram alguns bloqueios à exportação de trigo e outros produtos, Vietnã no arroz, Tailândia com ovos, entre outros casos que começam a  aparecer.

Frigoríficos devem reforçar a produção. Foto: Revista Exame

A FAO acredita em perturbações no sistema alimentar mundial, pois os isolamentos podem atrapalhar as atividades produtivas, restringindo fluxos de trabalhadores migrantes, exportações, problemas de colheita por falta de mão de obra, entre outros.

Isso pode acabar sendo um benefício ao Brasil, que está sentado sob uma safra recorde e pode colher frutos de eventuais aumentos de preços da commodities face a estes abalos das cadeias produtivas do cenário mundial.

O futuro do agronegócio no Brasil

O Brasil deve se posicionar para se oferecer como alternativa a um possível movimento de volta de políticas de seguridade alimentar em muitos países, depois dessa crise.

Outra ação que pode representar uma oportunidade é que governos no mundo todo, inclusive no Brasil, terão que expandir gastos públicos para conter parte dos danos nos sistemas econômicos, da destruição de empregos e empresas, e uma parte importante desses gastos públicos irá para vouchers de alimentação, tentando garantir o básico para a sobrevivência das famílias, e isso pode se traduzir em aumento no consumo mundial de alimentos, ou na pior das hipóteses, ajudar a neutralizar uma eventual queda.

Aumento nas taxas de produção no campo

Neste momento de incerteza, o campo nos brinda com notícias animadoras. A Conab traz em seu boletim de março uma expectativa de produção 251,9 milhões de toneladas de grãos, crescimento de 4,1% em comparação à safra passada, quase 9,9 milhões de toneladas incrementais.

Já para área cultivada, espera-se um crescimento de 2,4%, chegando a 64,78 milhões de hectares. A colheita da Soja deve bater recorde de produção devido as boas condições climáticas, chegando a 124,2 milhões de toneladas com incremento de 2,6% da área. A área com algodão deve crescer 3,3%, enquanto que milho segunda safra aumenta 2,1%. A primeira safra de milho registrou incremento de 3,2% na área e deverá produzir 25,6 milhões de toneladas. .

Na carona desses bons preços em reais e da produção citada pela CONAB, o MAPA aponta para um valor bruto da produção de 2020 estimado em R$ 683 bilhões (8,2% acima do valor de 2019). De fevereiro a março, a estimativa subiu praticamente R$ 9,1 bilhões.x Nas lavouras esperam-se R$ 448,4 bilhões sendo gerados (9% a mais), sendo que na soja deveremos ter R$ 160,2 bilhões (16% a mais). Milho também cresceu 15%, chegando a R$ 74 bilhões. Nas cadeias da pecuária, o valor está em R$ 234,8 bilhões, sendo R$ 1,3 bilhão menor que a última projeção, mas ainda assim quase 7% maior que o ano passado.

Devido ao fechamento de alguns portos na Ásia e outras restrições, era esperado queda em nossas exportações neste início de ano. Fechamos fevereiro com US$ 6,41 bilhões (MAPA), caindo 6,3%. As importações do agro caíram (11,2%), e o superávit cai para US$ 5,35 bilhões (5,2% menor que fevereiro de 2019). Grãos e produtos florestais perderam um pouco, apesar das carnes subirem 11,3%. Temos que correr atrás, pois no acumulado do ano estamos em 8% abaixo do primeiro bimestre de 2019. Foram US$ 12,27 bilhões vendidos.

Vendas aumentaram nos supermercados

Tal como na Europa e nos EUA, no Brasil as vendas em supermercados cresceram 20% nas semanas de restrições de circulação, em média. Alguns supermercados limitaram as compras de alguns produtos para ter falta de estoque, mas a situação começa a se normalizar. Semana passada segundo alguns varejistas, parecia véspera de Natal.

Esta corrida chegou a gerar alguns distúrbios de preços, com inflação na área de alimentos, uma vez que como a demanda deu uma estourada em duas semanas devido a movimentos de abastecimento das casas e até de estocagem, e como em alguns casos houve problemas de interrupção de fornecimentos, e a oferta é dada, este aumento de demanda trouxe aumento de preços em alguns produtos, que foram naturalmente distribuídos nas etapas da cadeia de distribuição.

É preciso muita atenção a este ponto, não é o momento de atitude oportunista. E isto precisaria ser monitorado de muito perto pelo Governo.

Uma coordenação muito interessante para ajudar a sanar os problemas foi feita em Ministérios e Secretarias de Agricultura para garantir o abastecimento.

Um futuro ainda incerto

Um novo aprendizado virá e novas pessoas vão se sobressair, e no geral sairemos desta com um aumento da nossa capacidade analítica. Simplicidade será a bola da vez. É preciso, agora mais do que nunca, de pensar em levantar nosso povo após esse inevitável tombo com sacrifícios de todos.

Os cinco fatos do agro para acompanhar agora diariamente (talvez não diariamente, mas a cada hora) em abril são:

  1. Os impactos do coronavírus na economia mundial, nas nossas exportações do agronegócio e nos preços das commodities;
  2. Os graves impactos do coronavírus na economia brasileira e o andamento dos problemas, das operações logísticas, a governança política e a gestão da crise instalada;
  3. O comportamento do clima na segunda safra de milho, não podemos ter problema na oferta;
  4. China e Ásia: seguir as notícias dos impactos da peste suína africana na produção da Ásia nos preços e quantidades de carnes importadas do Brasil. Assunto ficou meio esquecido com a crise do coronavírus, mas segue presente;
  5. Expectativas da safra a ser plantada nos EUA e os destinos do milho que não será usado para etanol.

O quadro a seguir resume os possíveis impactos positivos e negativos vindos desta crise, quase que um resumo deste texto.

Fonte: SNA, adaptado pela equipe de redação q1vet.com

Artigos Técnicos

veja mais notícias

Assine nossa NEWSLETTER