
Artigos Técnicos
Por Dr. Francis Flosi – Médico veterinário e diretor da Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas
O dia 29 de maio de 2025 entra para a história da pecuária brasileira como um marco sanitário. Nesta data, o Brasil foi oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como zona livre de febre aftosa sem vacinação. A decisão foi anunciada em Paris, durante a 92ª Sessão Geral da Assembleia Mundial de Delegados da OMSA, e representa um avanço estratégico para o agronegócio e a saúde animal no Brasil.
A OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) é a entidade global responsável por estabelecer normas sanitárias para o comércio internacional de produtos de origem animal. O novo status sanitário do Brasil confirma que o país alcançou um nível elevado de biossegurança, vigilância epidemiológica e controle sanitário, que permite eliminar o uso da vacina contra a febre aftosa.
Esse reconhecimento fortalece a imagem do Brasil como uma potência agropecuária moderna e confiável, com alta capacidade técnica e rigor sanitário. A credibilidade internacional é hoje um dos maiores diferenciais na competitividade da carne bovina brasileira no mercado externo.
Países como Japão, Coreia do Sul, Canadá, México e União Europeia impunham barreiras à carne oriunda de regiões que ainda utilizavam vacinação contra a febre aftosa. Com o novo status, o Brasil amplia seu acesso a mercados premium e de maior valor agregado, o que deve impulsionar significativamente as exportações do setor.
A carne é um dos principais pilares da economia brasileira, e a expectativa é de que esse reconhecimento resulte em bilhões de reais em novos negócios, com aumento da competitividade, valorização do rebanho nacional e fortalecimento da cadeia produtiva.
A febre aftosa é uma doença viral altamente contagiosa, que atinge bovinos, bubalinos, suínos e caprinos. Desde os anos 1960, o Brasil investe em campanhas de vacinação em massa, controle de fronteiras, rastreabilidade e educação sanitária. Esses esforços culminaram agora na erradicação da necessidade de vacinação, consolidando um novo patamar sanitário para o país.
A Medicina Veterinária brasileira desempenhou um papel essencial em cada etapa dessa conquista. Profissionais da área atuaram na prevenção, diagnóstico, vacinação, fiscalização, educação sanitária e implementação dos protocolos da OMSA. Esse resultado reforça a relevância do médico veterinário não apenas para a saúde animal, mas também para a saúde pública e a economia nacional.
O controle da febre aftosa é uma vitória que vai além da economia. Ele reforça o conceito de One Health (Uma Só Saúde), que integra ações em prol da saúde animal, humana e ambiental. Reduzir riscos de doenças transmissíveis entre espécies é uma estratégia vital para a segurança global.
Apesar da conquista, o Brasil ainda enfrenta desafios sanitários importantes, como o tráfico ilegal de animais nas fronteiras com países que não possuem o mesmo status sanitário. O reforço da fiscalização, o uso de tecnologia em tempo real e a integração de dados sanitários serão fundamentais para manter os avanços alcançados.
O novo cenário exige soluções em rastreabilidade, inteligência sanitária e resposta rápida a surtos. Isso abre espaço para a atuação conjunta de startups, universidades, centros de pesquisa e agritechs, ao lado dos médicos veterinários e produtores.
O reconhecimento do Brasil como zona livre de febre aftosa sem vacinação é o resultado de uma jornada de ciência, cooperação e dedicação. Agora, o país assume uma nova responsabilidade: manter esse status com excelência. Isso exige investimento público e privado, capacitação profissional, educação continuada e fiscalização rigorosa.
A Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas se orgulha de fazer parte dessa evolução. Nossa missão é formar profissionais preparados para enfrentar os desafios da saúde animal, com ética, inovação e compromisso com a sociedade. A medicina veterinária brasileira está pronta — e o futuro do agronegócio também.