Alimentação

Produção de frango começa a ser reduzida no Brasil

Demanda interna fraca e risco de contaminação de funcionários de frigoríficos afetam mercado

Postado em abril 27, 2020 as 7:32 pm por Minha Cliente
Aumento no custo da produção de frango (Reprodução: Rondo Rural)
Aumento no custo da produção de frango (Reprodução: Rondo Rural)

“Não há escapatória”. Assim um graduado executivo da agroindústria resumiu a chegada da crise na avicultura, um dos segmentos mais resilientes da economia brasileira até aqui.

A piora da demanda interna, porém, está começando um movimento de redução na criação de frango que deverá se aprofundar nos próximos meses. Ainda não há estimativas precisas sobre a dimensão do corte na oferta, mas algumas empresas já decidiram quebrar parte dos ovos que seriam enviados das incubadoras aos nascedouros, reduzindo os lotes de pintinhos destinados à engorda.

Contudo, os reflexos desse movimento só deverão aparecer com mais força em junho, momento em que a produção efetiva de frango será ínfima. No campo, os efeitos acontecem em maio, com a redução do alojamento de pintinhos nas granjas. Em média, o processo de engorda dos frangos leva cerca de 45 dias.

 

O corte da produção de aves

Cálculos iniciais do segmento indicam que o primeiro ajuste “emergencial”, com a quebra de ovos, reduzirá o alojamento de pintinhos em cerca de 10% em maio. Outra medida, de médio prazo, será o abate antecipado de aves matrizes (galinhas mães) que diminuirá a oferta de frango no país, em pelo menos, 5%.

O corte da produção de aves é intrincado devido à longa e viva cadeia de produção. As aves matrizes vivem, em média, 67 semanas, mas só começam a botar os ovos a partir da 25ª semana, ou seja, seis meses depois do alojamento na granja. Além disso, cada matriz produz aproximadamente 155 pintinhos.

Ao encurtar a vida das aves mães, as agroindústrias evitam assim a produção futura de frango.

Nesse sentido, a medida torna a recuperação da produção mais lenta. Porém, não há alternativas, uma vez que não há mercado para absorver o frango. Em abril, o preço do frango congelado no atacado paulista, por exemplo, caiu 13,80%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

 

 

Oferta excedente de frango

A questão é ainda mais sensível porque a avicultura do país estava com o pé no acelerador. Isso é preocupante em razão do risco de uma sobre oferta mesmo com a excepcional demanda da China. Em 2019, por exemplo, o alojamento de matrizes atingiu o recorde de 51.5 milhões.

O que sinalizava uma forte produção de frango neste ano.

Além desta oferta excedente, farelos de soja e milho dispararam, pressionando as margens de lucro.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa as agroindústrias avícolas,  evitou comentar o corte na produção futura de frango. Em nota, a entidade setorial alegou ainda não ter “consolidado seus dados sobre o alojamento da avicultura brasileira referentes ao primeiro trimestre. Análises preliminares indicam uma tênue redução da produção, decorrente da atual conjuntura”.

A associação também enfatizou que a exportação segue “em nível positivo”.

 

Contaminação dos funcionários

O risco associado à contaminação de funcionários é palpável, como comprovam os frigoríficos americanos que fecharam ou reduziram a produção. É o caso do abatedouro da Minuano em Lajeado, no Rio Grande do Sul. A unidade cortou a produção em cerca de 40%, informou a Minuano.

Do total de 1.800 funcionários da unidade de Lajeado, 16 tiveram diagnóstico positivo para a Covid-19.

A companhia também afastou preventivamente 560 pessoas com sintomas gripais, enquanto que 195 continuam afastados e com sintomas, além de 286 trabalhadores de grupos de risco.

Este cenário, aumentou a preocupação da indústria com as medidas do Ministério Público do Trabalho (MPT). Por isso, na semana passada, a instituição firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Minuano. O acordo estipula ações contra o Coronavírus, e inclui o distanciamento mínimo de um metro entre empregados no setor produtivo. O descumprimento está sujeito à multa mensal de R$ 50.000,00.

As medidas poderiam reduzir a produção de frango em até 30%, enquanto a produção de carne suína cairia pelo menos 20%. Isso afetaria a produção de alimentos processados.

Que poderia diminuir até 50%, segundo projeções de uma grande indústria.

 

Fonte: SNA e Valor Econômico, adaptado pela equipe de redação do Notícias Q1Vet.com

 

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