Curiosidades
Com mais de 10 anos de experiência, Dr. João de Amorim Salgueiro, Médico Veterinário e treinador de equitação, fala a respeito dos métodos de prevenção de lesões em equinos.
A maior preocupação de proprietários, treinadores, cavaleiros, e até mesmo tratadores, são as lesões que os seus cavalos possam ter. Uma lesão num cavalo pode levar a perdas económicas elevadíssimas e, até mesmo, à perda do cavalo.
No entanto, evitar lesões é possível e não é um “bicho de 7 cabeças”; para tal, basta que alguns princípios e necessidades sejam garantidos, bem como conhecer a sua anatomia, fisiologia e, principalmente, a sua biomecânica.
Lidar com cavalos pressupõe que se conheça minimamente as suas necessidades, mas será que sabe olhar para cada cavalo individualmente e adaptar o maneio e o treino às suas necessidades?
O exercício e treino do cavalo deve ser ajustado de acordo com diversos fatores:
- Cavalos de diferentes idades devem ter planos e intensidades de treino diferentes, recaindo a maior preocupação em cavalos novos ou de idade mais avançada. Nestes, além de não ser aconselhável que haja esforços muito intensos, a fase de aquecimento e relaxamento devem ser mais prolongados.
- O estado de treino do cavalo também influencia o tipo e a intensidade dos exercícios que devem ser impostos ao cavalo. Cavalos que não estão habituados ao treino devem realizá-lo de forma mais progressiva (aumentando a intensidade aos poucos), para que o seu corpo se vá habituando.
- Se um cavalo já teve alguma lesão anteriormente, a intensidade do seu treino deve ser ajustada, pois haverá uma probabilidade elevada de este voltar a ter a mesma lesão.
- É essencial adaptar e focar o treino no propósito e objetivo do cavalo. Um cavalo para nível Grande Prémio de Ensino deve realizar exercícios específicos para essa finalidade, que devem ser totalmente diferentes dos de um cavalo cujo objetivo sejam provas médias de Salto de Obstáculos, por exemplo.
Por outro lado, não é só o treino que faz com que o cavalo não tenha lesões. O maneio é também muito importante.
- Garantir que o cavalo tenha uma alimentação correta é essencial. Uma ração de acordo com as suas necessidades nutricionais, dada várias vezes ao dia, e feno de boa qualidade sempre disponível é imperativo.
- Quanto à suplementação, só mesmo a necessária! Se a ração for completa e de boa qualidade, a suplementação quase não é necessária.
- O material de treino que o cavalo usa deve ser o mais adaptado ao seu corpo. Todos nós gostamos de andar com roupa e sapatos confortáveis; os cavalos também necessitam desse conforto, principalmente tendo em conta que, muitas vezes, são levados ao seu limite. Todo o material deve ser adaptado a cada cavalo, desde o arreio à cabeçada ou das caneleiras/ligaduras ao suadouro. Material que não seja adaptado irá provocar desconforto, que levará a que o cavalo exerça forças e resistências contrárias ao seu normal movimento.
- Igualmente importante é a sua zona de descanso. A box deve ser o mais confortável possível, independentemente do material de que for feita. Não esquecendo que devem passar pouco tempo dentro dela, favorecendo o uso de paddocks, para que se possam movimentar.
- Outro ponto bastante importante é não estarem um dia sem se movimentarem, ou seja, o descanso deve ser um descanso ativo e não parado. Deste modo, devem usar-se guias mecânicas ou recorrer, novamente, aos paddocks. Os músculos acomodam-se rapidamente ao descanso, sendo mais complicado voltar a exercitar após um período parados, por muito curto que seja.
- Por último, mas não menos importante, os pisos das pistas/picadeiros não devem ser demasiados duros ou moles, devem ter uma consistência elástica e com capacidade para absorver o impacto dos membros quando estes assentam no chão. Um piso muito duro irá sobrecarregar as articulações quando existir impacto do membro, já os pisos demasiado moles irão esforçar muito mais todos os ligamentos e tendões, devido à tração necessária para estes saírem do chão.
Se tudo o que foi descrito atrás for mantido, a ocorrência de lesões diminuirá significativamente.
Ao observar um cavalo a andar é fácil perceber em que andamento está, se apresenta alguma coxeira ou manqueira que seja muito evidente. No entanto, saber que estruturas estão debaixo da pele e perceber como funcionam e como devem funcionar já é mais complexo, e algo que não é restrito apenas a veterinários e fisioterapeutas.
Fonte: Equisport, adaptado pela equipe de Redação do Q1.Vet.com