Curiosidades
No Brasil, 26 de maio é o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, doença que pode causar a cegueira em humanos, mas também em animais, sendo mais comum em cão, gato e cavalo.
Para explicar o que é o glaucoma, como a doença se manifesta em animais, quais são as formas de prevenir e como garantir o bem-estar dos animais afetados, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) entrevistou a pós-doutora em Cirurgia Veterinária Andréia Vitor Couto do Amaral, professora da Universidade Federal de Jataí (UFJ), em Goiás.
Para quem tem um animal com glaucoma, a professora orienta o que fazer para mantê-lo seguro, enriquecendo o ambiente com uma rotina de cuidados e garantindo a ele independência de forma saudável. O CFMV alerta: abandono de animais é crime, a doença não é transmissível, tampouco impede a convivência fraterna e saudável. Pelo contrário, com a orientação adequada de um médico-veterinário, os animais melhoram e enriquecem a vida e a saúde de seus tutores.
O que é o glaucoma? Quais são os danos que ele causa?
O glaucoma constitui um grupo heterogêneo de distúrbios (glaucoma primário de ângulo aberto, primário de ângulo fechado ou estreito, glaucoma secundário, por exemplo) que geralmente estão associados ao aumento da pressão intraocular (PIO), constituindo uma das causas mais comuns de cegueira irreversível em cães.
O que causa o glaucoma em animais? Pode ser hereditário, genético? Pode surgir a partir de fatores externos, por complicação de outras doenças?
Alguns podem ser herdados e, geralmente, surgem na idade adulta. Os tipos de glaucoma que podem ser hereditários são os glaucomas primários.
O glaucoma secundário pode ser decorrente de diversas alterações intraoculares que impossibilitam a correta drenagem do aquoso (líquido intraocular), causando aumentos na PIO, como uveíte (inflamação da úvea – íris, coroide e corpo ciliar – que pode causar cegueira), catarata, úlceras de córnea complicadas e retinopatias. Por sua vez, essas alterações intraoculares podem ser consequência de afecções sistêmicas, tais como hemoparasitoses, doenças endócrinas e renais, entre outras. Por esses motivos, os glaucomas secundários são mais comuns que os glaucomas primários.
Os glaucomas primários não têm associação consistente com outra alteração ocular pregressa ou sistêmica, são tipicamente bilaterais, têm forte predisposição racial e, portanto, acredita-se que tenham uma base genética.
Quais são os animais que podem ser acometidos com essa doença?
O glaucoma já foi reportado em diversas espécies domésticas e selvagens, entretanto, é mais estudado em cães, gatos e cavalos.
Quais são os sintomas que podem ser observados pelos tutores para prevenir a doença em seus animais?
Infelizmente, quando o tutor observar algum sinal clínico relativo ao glaucoma em seus animais, a doença já está instalada. Geralmente, são observados sinais inespecíficos, tais como opacidades de córnea, irritação da esclera (hiperemia episcleral), contração involuntária da pálpebra (blefaroespasmo). Por essa razão, é de fundamental importância o imediato exame pelo médico-veterinário especializado em oftalmologia veterinária, para que se possa fechar o diagnóstico e definir o tratamento mais adequado.
Como é feito o diagnóstico? O diagnóstico precoce ajuda a conter o avanço da doença?
O diagnóstico é realizado por meio identificação dos sinais clínicos, com a aferição da pressão intraocular (geralmente tonometria de aplanação ou de rebote), a gonioscopia e a fundoscopia para avaliação da retina e nervo óptico. Outros métodos diagnósticos incluem a ultrassonografia e a eletrorretinografia, que também são de extrema importância. Geralmente, os equipamentos utilizados para esses métodos diagnósticos implicam alto custo, razão pela qual são mais empregados em centros de referência.
É importante realizar esses exames em raças predispostas e com histórico familiar de glaucoma, pois, no cão, o glaucoma primário de ângulo fechado é pelo menos oito vezes mais comum que o glaucoma primário de ângulo aberto. O diagnóstico precoce é fundamental para início do acompanhamento e instituição de diretrizes para conter o avanço da doença.
Existe tratamento? E cura? Há indicação de cirurgia?
Sim, existe tratamento do glaucoma. O principal objetivo do tratamento é parar as alterações glaucomatosas causadas pelo aumento da PIO que comprometem o nervo óptico e a retina, impedindo a progressão da doença e a cegueira irreversível.
No entanto, atualmente, o tratamento do glaucoma é limitado à redução da PIO elevada, o que nem sempre impede ou retarda a progressão da doença. Os esforços são concentrados na proteção indireta do nervo óptico, por meio da redução da PIO.
A PIO, por sua vez, pode ser diminuída por meio de tratamento cirúrgico e farmacológico. No entanto, a escolha do tratamento dependerá de diversos fatores.
Tratamento caseiros são seguros e eficazes?
Absolutamente não. Não devem ser experimentados tratamentos caseiros em animais com alterações oculares, que sempre necessitam de exames especializados do médico-veterinário para o correto diagnóstico, indicação do tratamento e acompanhamento da evolução do quadro.
Uma vez com glaucoma, quais são as recomendações para que o animal tenha uma vida saudável e confortável?
É necessário seguir todas as indicações prescritas pelo médico-veterinário, tais como frequência de instilações de colírios, visitas para acompanhamento clínico e exames periódicos, que serão definidos mediante cada caso em particular, a depender do tipo de glaucoma, tipo de tratamento e evolução do quadro.
É importante salientar que um animal com glaucoma necessitará de cuidados médicos e acompanhamento por toda a vida.
Caso o animal perca a visão, apesar de conseguir lidar bem com isso e ser surpreendentemente independente, são necessários alguns cuidados:
- não mude objetos de lugar de forma frequente ou substanciosa;
- proteja escadas e piscinas;
- ensine-o onde estão água, ração e deixe próximo de sua cama;
- sempre monitore a ingestão de água;
- reserve uma hora do dia para brincar com seu animal;
- dê preferências a brinquedos com som;
- leve o animal para passear, mas prefira lugares com menor poluição sonora e use sempre uma guia bem segura.
Fonte: Assessoria de Comunicação do CFMV. Adaptado pela equipe de redação do q1.vet.com