Curiosidades
O protagonismo da produção de leite do inicio da domesticação dos bovinos, na pré-história até os dias atuais, teve no homem seu maior artífice. Contudo, foi Robert Bakewell, um fazendeiro inglês que viveu de 1725 a 1795, quem estabeleceu os padrões modernos do melhoramento animal (Lush, 1945).
Em bovinos, seus esforços foram direcionados para o aprimoramento do English Longhorn. Seus princípios incluíam coisas como: “consanguinidade produz prepotência e refinamento; e acasalar o melhor com o melhor”. Desta maneira, aqueles animais que produziam as melhores progênies retomavam ao seu plantel e eram utilizados como reprodutores.
Além disso, Bakewell possuía uma meta bem definida, que era a obtenção de animais precoces quanto à produção de carne (Ensminger, 1976). Assim, surgiram os primeiros registros genealógicos os “herdbook” da raça Shorthorn.
Registro genealógico de bovinos no Brasil
No Brasil, o registro genealógico dos bovinos, teve início em 1904 pelo Dr. Leonardo Brasil Collares, apoiado pela Associação Rural de Bagé-RS, constituiu-se no primeiro marco e razões para a criação das associações de criadores de raças especializadas no país. O gado mestiço e puro de origem europeia para a produção de carne e dupla aptidão, importados da Argentina, Uruguai e Paraguai, tiveram seus primeiros registros de raça e criadores.
A pecuária leiteira que permaneceu adormecida por mais de três séculos, finalmente teve sua grande impulsão a partir de 1870, com a decadência do ciclo do café, e início do ciclo do leite, com ocupação das fazendas cafeeiras com raças bovinas europeias leiteiras especializadas, principalmente o caracu e o holandês.
Com relação ao gado de leite, os incentivos federais oficiais começaram a partir de 1976, com a criação do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite (CNPGL) coordenado pelo médico veterinário Fernando Enrique Madalena que, juntamente com a equipe de Melhoramento Animal, propuseram o Projeto Mestiço Leiteiro Brasileiro (MLB), o primeiro programa de teste de progênie para leite realizado no Brasil.
A partir desse Programa inicial, seguiram demais projetos de melhoramentos para as raças Girolando, Sindi, etc.
Recordistas mundiais de leite – Guinness Book
Vaca americana Beecher Arlinda Ellen (Holstein Frísia)
Tudo começou com um touro chamado Pawnee Farm Arlinda Chief, nascido em 1962, EUA, que acumulou a cifra respeitável de 16 mil crias, 500 mil netas e dois milhões de bisnetas, segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia em Davis, Estados Unidos. (BBC News, 2016). Hoje, seus genes são responsáveis por 14% de todo o DNA das vacas holandesas, a raça mais popular na indústria de laticínios dos EUA.
Graças à inseminação artificial, um método que foi adotado em larga escala na indústria do leite a partir da década de 1960, o material genético desse touro transformou a indústria leiteira americana.
Beecher Arlinda Ellen, filha de inseminação artificial do touro Pawnee Arlinda Chief e a vaca Bridgecrest Skylighter Elsie, nasceu em 26 de fev de 1969, na Fazenda Schneider no Estado de Indiana de propriedade dos fazendeiros japoneses Jarkin e Norma Jean Beecher, pequenos pecuaristas que se dedicavam à pecuária de leite e outros animais domésticos.
Passando de um rebanho Holstein sem registro para um gado registrado, Ellen nasceu com mais alguns bezerros e bezerras, chamando logo a atenção dos Beecher por sua conformação física, tamanho apropriado, aprumos perfeitos, úbere esponjoso e profundo e pescoço comprido para alimentação, observações feitas pelo Dr. John Cleland estudioso das ciências animal da Universidade de Perdue-Indiana. Tinha, após essa avaliação, ainda como bezerra potencial zootécnico para uma grande produtora de leite.
O Recorde da Beecher Arlinda Ellen na produção de leite
Aos 2 anos, quando de sua primeira cria e lactação, superou a média do rebanho da fazenda, 70 vacas, em 50%. Em 1974, quando tinha 4 anos, já tinha produzido 3 touros, sempre sob supervisão dos professores de Perdue.
Nesse ano, já era considerada uma Super Vaca, pela produção constante durante o ano e ciclo de lactação com produção de 38 000 libras de leite. Monitorada dia e noite pelo Dr. Jack Albright, especialista em comportamento animal, Ellen tinha um apetite voraz, gostava de feno no chão, dormia 30 minutos por dia, mascava chiclete (ruminava) 7 horas e gostava de água morna, entre outros dados do comportamento animal.
Em 21 novembro de 1975, Ellen bateu o Record Mundial produzindo 55 661 libras, quase 6 500 galões, total de 89.9 kg, em duas ordenhas, fato acompanhado pelos técnicos de Pardue e publicado oficialmente no Livro do Records – Guinness Book.
Em março de 1984, Ellen morreu aos 15 anos de idade, deixando um legado de milhares de descendentes e valorização da raça Holstein. Por fim, Ellen foi sepultada em túmulo especial em frente ao Celeiro da Fazenda.
Vaca cubana Ubre Blanca de Fidel Castro (Mestiça Zebu x Holstein)
Desejoso de mostrar ao governo americano a superioridade do socialismo cubano, o comandante Fidel Castro colocou perante os técnicos agrícolas cubanos o desafio ambicioso de levar Cuba ao primeiro lugar do mundo em produção de leite por cabeça de vaca.
Fruto de inseminação artificial de esmerada seleção genética entre 118 bezerras mestiças, (Holstein x Zebu), Ubre Blanco foi produto do cruzamento dos genótipos 3/4 Holstein, touro Rosafé Signet, e 1/4 zebu Brahma (F2).
Nascida em 1972, na cidade de Nueva Gerona, capital da Ilha da Juventude, Fazenda Vitória, a ” Super Vaca ” cubana de todos os tempos, no final dos anos 1980, começou chamar a atenção dos pesquisadores e pecuaristas quando na 3ª cria produziu mais de 63 litros de leite em um dia.
Sendo assim, a partir desse momento, maiores cuidados e atenção foram dados a Ubre Blanca.
A vaca era cuidada por uma equipe de 5 pessoas, em regime de exclusividade. Diariamente eram feitas as análises de sua urina e fezes; a quantidade de alimentos era calculado até a última grama, bem como a quantidade de vitaminas e qualidade da água. Na sua dieta diária, consumia cerca de 40 kg de forragem, 40 kg de pastoreio induzido, 2 litros de mel e 130 litros de água.
O Recorde da Ubre Blanca na produção de leite
Ubre Blanca, a extraordinária vaca cubana, bateu também outros recordes de produção e produtividade: produziu 24,268.9 litros de leite (cerca de 55.090 libras em 2,27 libras por litro) em 305 dias, durante o período de aleitamento, de 1981 a 1982 e o Recorde Mundial de 109.5 kg/dia, em três ordenhas que pertencia a Americana Arlinda Allen, 1975.
Por fim, em 1984, quando tinha 17 anos, a “super vaca” morreu de câncer de pele. Várias homenagens oficiais foram prestadas pelo governo oficial de Cuba.
Vaca brasileira Girolando Marília FIV Teatro de Naylo (Mestiça)
Oriunda do criatório Naylo Souza (NS), Fazenda Boa Vista, localizado nos municípios de Bananal e Areias/SP, a vaca brasileira Marília FIV Teatro de Naylo, Girolando, filha do touro Teatro da Silvânia e a matriz Apelúcio Eduarda Glaucia Lord Lily, mestiça CCG 1/2 Hol + 1/2 Gir, de propriedade dos pecuaristas irmãos André e Gustavo Souza, bateu o recorde mundial de 110.9 kg de leite que, desde 1981, 39 anos, pertencia a vaca cubana Ubre Blanca.
É a primeira vez que uma vaca da América do Sul e do Brasil conquista esse prêmio mundial.
O Recorde da Girolando na produção de leite
Marília nasceu em 16 de março de 2014, e é registrada na Associação Brasileira dos Criadores de Girolando (ABCG). O recorde mundial, 127.570 kg/leite, foi atingido no dia 03 de agosto de 2019, regime três ordenhas, num único dia, durante o 34º Torneio Leiteiro de Areias (SP) e homologado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Segundo os proprietários, Marília é uma vaca muito boa na parte produtiva e reprodutiva. Já teve 8 bezerras e 1 bezerro CCG 3/4. Sempre produziu muito bem na FIV como produtora de embriões.
Referindo-se ao extraordinário resultado alcançado, registrado no Livro de Recordes – Guinness Book, assim se pronunciou o Sr. Luiz Carlos Rodrigues presidente da Associação; ” É uma grande conquista para todos que trabalham com o Girolando. Isso demonstra a evolução da genética, o profissionalismo e o desenvolvimento de nossa atividade. Esse animal é um patrimônio brasileiro, por mostrar ao mundo a sua força como raça especializada na produção leiteira “.
Sobre o criatório Naylo Souza (NS), trata-se de um dos criatórios mais tradicionais e respeitado do país que, há mais de 70 anos, vem se dedicando à pecuária leiteira e produção de reprodutores e matrizes de alta linhagens mestiças da raça Girolando, hoje reconhecido em todo o Brasil. A saber, seus produtos animais vivos, sêmen e embriões para inseminação artificial ou transferência, são os mais valiosos e valorizados, no mercado nacional, nos leilões, torneios leiteiros e exposições rurais de alta performance em todo o território nacional.
Sobre a raça Girolando
Conforme Portaria nº 079, de 1º de jan de 1996, a raça Girolando foi oficializada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), passando a entidade adotar o nome de Associação Brasileira de Criadores de Girolando, com a sigla “Girolando”. e registro nº 59, da série da Entidade de Âmbito Nacional, no cadastro das Associações encarregadas do Registro Genealógico, tendo por finalidade precípua incrementar, de maneira nacional, a criação da raça Girolando, congregando e defendendo o interesse de seus Associados.
A sede nacional da Associação localiza-se no Triângulo Mineiro, tendo por tradição o pioneirismo de seus criadores na busca de soluções para o setor. Sendo assim, a associação foi credenciada no Ministério e ganhou força para comandar o Programa de Formação da Raça.
De acordo com o zootecnista Frederico Paiva, o diferencial do Girolando é a fácil adaptação a qualquer sistema de produção. “Quando levamos para um sistema intensivo, com ambiente, qualidade e nutrição, temos um potencial leiteiro de muita qualidade. Do mesmo modo, quando se vai para uma produção tropical esta raça se dá muito bem também”, analisou.
A composição sanguínea da raça é escolhida de acordo com o ambiente e o objetivo do pecuarista. O padrão Girolando é um gado ⅝, ou seja, com 68% de sangue holandês. Também é possível trabalhar com animais 3/4 , com 75% holandês; e meio-sangue, quando o animal é 50% holandês. Por possuir toda essa adaptabilidade ao clima brasileiro, a raça se tornou a grande responsável pelo fornecimento de leite no país. De acordo com a Associação, animais da raça são responsáveis por aproximadamente 80% do que é entregue ao mercado.
Fonte: Animal Business Brasil. Adaptado pela equipe de Redação do Portal Q1Vet.