Alimentação
Os surtos do novo coronavírus fecharam frigoríficos nos Estados Unidos (EUA), prejudicando o abastecimento de carne e agora atinge a Europa, onde algumas instalações também fecharam.
Nos EUA, os fechamentos, embora temporários, fizeram a produção de carne bovina cair 25%, tendo em vista que poucas empresas dominam o setor no país.
Enquanto isso, na União Europeia os 15 maiores produtores respondem por menos de um terço da produção, o que reduz o impacto. A produção de suínos e aves é mais afetada na Europa e nos EUA.
Alarmados pelas consequências da pandemia nos EUA e Europa, os grandes frigoríficos nacionais tomaram medidas:
- limitação de grupos em refeitórios;
- distribuição de máscaras;
- reforço na higienização;
- aumento de turnos e ampliação do uso de EPI’s.
Contudo, diferentemente dos EUA e Europa onde predominam o confinamento e o uso de ração ou silagem no cocho, o gado no Brasil é majoritariamente engordado em áreas de pasto distribuídas pelo país, com abatedouros menores também distribuídos.
A distribuição do abate em plantas menores, dispersas geograficamente, e o rebanho bovino que pode ser mantido a pasto por mais tempo diminuem o risco de impacto pelo fechamento de frigoríficos ou pela redução da capacidade operacional na produção.
Por outro lado, a distribuição de instalações menores em cidades do interior traz o risco de os frigoríficos se tornarem epicentros nesses locais.
Por exemplo, em Guia Lopes da Laguna, município com pouco mais de 10 mil habitantes no interior do Mato Grosso do Sul, há mais de 100 casos confirmados de contaminação e é o epicentro do foco de covid-19 na região, atingindo as cidades próximas, como Jardim e Bonito.
Segundo relatos, a contaminação começou no frigorífico, no contato entre o funcionário responsável pelo embarque e caminhoneiro responsável pelo transporte. O funcionário testou positivo e alertou a direção do frigorífico, que testou e confirmou o contágio em outros empregados e, por isso, decidiu suspender as atividades por pelo menos 15 dias, a partir de 8 de maio.
Fiscalização do Ministério Público do Trabalho
O Ministério Público do Trabalho (MPT) passou a fiscalizar as condições de trabalho considerando a pandemia, e avaliará 61 das 446 unidades de processamento de bovinos, aves e suínos em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Tocantins, Santa Catarina, Rondônia, Goiás, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A situação mais grave registrada até agora é no Rio Grande do Sul, onde das cinco cidades com mais casos de coronavírus, três têm frigoríficos.
O risco do desabastecimento por carne bovina
O risco de desabastecimento pode advir por aumento da demanda do mercado externo, se a queda de produção nos países importadores for maior. Mas, ao que parece, os efeitos tanto de um quanto de outro são temporários.
Cabe salientar que a demanda por carne bovina no mercado interno encontra-se desaquecida devido à crise econômica. Inegavelmente muitos frigoríficos já operam cotidianamente com ociosidade, girando em torno de 40%.
Em resumo, a menor demanda interna por carne, a possibilidade de manter rebanho bovino por tempo adicional no pasto, a ociosidade das plantas frigoríficas da indústria brasileira de carne bovina, o uso de plantas menores (quando comparadas às americanas) diminuem o risco de desabastecimento no Brasil.
A dispersão geográfica dos frigoríficos aumenta o risco de propagação da pandemia no interior do país, exigindo das empresas que adaptem rapidamente suas rotinas. Felizmente, isso já está ocorrendo, o que favorece, um nível ainda maior de sanidade da carne bovina produzida no Brasil.
Fonte: Embrapa. Adaptado pela equipe de redação do q1.vet.com